Em agosto deste ano. Paraty se surpreendeu com a Praça da Matriz quebrada, numa obra que a Casa Azul chama de restauro e requalificação, mas que, na verdade é uma reforma que vai descaracterizar totalmente esse logradouro histórico, como mostra a ilustração divulgada pela entidade na internet e em edição anterior deste jornal.
A reforma da praça realmente conta com os patrocínios, autorizações e apoios anunciados neste jornal, mas não com o apoio da população, como diz a Casa Azul em seu projeto para a Lei Rouanet.
Além disso, o plano Mar de Cultura, igualmente citado para legitimar essa reforma, apóia uma “ação”, mas não um “projeto”. E, muito menos, um projeto único, como se não houvesse em Paraty e no resto do Brasil outros profissionais qualificados para executá-la, além da Casa Azul.
A memória da cidade jamais foi consultada para a reforma da praça. Não há registro idôneo de reuniões com a comunidade.
E o que a Casa Azul chama de investigação histórica para embasar seu projeto foi uma pesquisa sem nenhum método, nem amostra confiável, que entrevista apenas oito moradores antigos, exclui os que são contra a obra e fala de forma superficial sobre a evolução do logradouro, sem descer às razões dessa evolução, essenciais para analisar qualquer alteração em sua estrutura ou seu aspecto formal.
Retroceder a Praça da Matriz às características de 1920, como induzem a pesquisa apresentada e o projeto da entidade, é passar por cima de quase um século da evolução da cidade, das soluções que ela adotou para resolver seus problemas urbanos e dos desejos de várias gerações, incluindo a de agora, que em nenhum momento pediu qualquer alteração na praça: a única demanda vem da Casa Azul.
Na verdade, quem deveria embasar esse tipo de iniciativa é o IPHAN, que tem a qualificação e autoridade necessárias para isso. Estranhamente, no entanto, esse órgão tão rigoroso com o patrimônio da cidade se comportou de forma burocrática na avaliação desse projeto e, em reuniões para discuti-lo, não só o declarou ideal como o favoreceu com seu voto, embora, a rigor, devesse permanecer neutro.
Mas a Casa Azul não discutiu nenhuma dessas questões com Paraty. Nem sequer avisou da obra, exceto por uma placa, sem revelar o valor do investimento e com apenas um e-mail para as pessoas se manifestarem, quando a maioria da população é de excluídos digitais.
No entanto, jovens indignados postaram na internet uma petição contra a obra que subiu a quase 500 assinaturas, obrigando a entidade a convocar uma reunião para apresentar seu projeto.
Só que, acuada por uma esmagadora maioria que não desejava qualquer alteração na praça, manobrou habilmente a reunião para a formação de um grupo de doze membros, supostamente representativo da população, que discutiria e votaria o projeto, com uma maioria de sete.
Esse grupo, entretanto, não tem nenhuma legitimidade, por que não representou a população: grande parte dos membros eram de órgãos oficiais, favoráveis ao projeto, que lhe garantiram pelo menos cinco votos. E, enquanto a oposição precisaria de sete votos para derrubar o projeto, a Casa Azul precisou de apenas dois para aprová-lo.
Além disso, os membros que se opuseram ao projeto sofreram todo tipo de constrangimento para votarem a favor ou porque continuaram votando contra, sob o comando de uma equipe treinada em dinâmica de grupo.
Agora, a Casa Azul anuncia que vai reunir de novo esse grupo e retomar a reforma da praça, com a aprovação final do projeto depois de “adequá-lo a demanda da população”.
Somos um grupo de cidadãos de Paraty, que hoje se somam a mais de mil assinaturas contra qualquer alteração da Praça da Matriz, exceto rampas de acesso para deficientes.
Achamos que, para fazer essas alterações, não é necessário destruir a praça e fazer outra. Achamos, também, que essas obras podem, perfeitamente, ser assumidas pela Prefeitura, que tem recursos para isso e foi legitimamente eleita para cuidar da cidade segundo o desejo de seus cidadãos.
Somos contra essa reforma porque queremos nossa praça como ela é com suas árvores que nos abraçam, com as muretas em que nos sentamos, com seus usos espontâneos pela população; com o jeito, a alma e o coração de Paraty.
Preservar nossa praça como está é preservar a história de todos nós e de nossas famílias. A história que ela nos conta e que faz parte da nossa. A história com que cada um de nós abraçou essa praça que nos abraça.
Porque a história não é só o legado de nossos avós. É, também, o passado de nossos pais e o presente de todos nós, como o material que formará nosso futuro e o de nossa cidade.
Queremos uma Audiência Pública para expressar a legítima oposição de Paraty a essa obra. Assine a lista contra a Praça da Casa Azul, que corre pela cidade. Fale conosco por (amamosparaty@hotmail.com). Acesse a página AMAMOSPARATY no facebook.
Nossa praça é esta. Esta praça é nossa.
Movimento Amamos Paraty