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21 de out. de 2011

O que é Arqueologia?

A palavra Arqueologia vem do grego ARCHAÎOS (Antigo) + LOGOS (Conhecimento, estudo), ou seja, o estudo do que é antigo. Com o desenvolvimento das ciências humanas, o conceito atual de arqueologia tornou-se mais amplo, podendo ser entendida como sendo a disciplina que estuda as sociedades atuais ou passadas através da cultura material, ou seja, através dos objetos e vestígios materiais, da sociedade estudada.
A arqueologia tem por objetivo a reconstituição das culturas humanas, a partir de teorias, métodos e técnicas específicas. Assim, é a cultura humana que tentamos reconstituir e interpretar.
O estudo do comportamento humano é de fundamental importância para compreendermos aspectos da organização espacial. Através da Arqueologia, ciência responsável pelo estudo do passado por meio de vestígios materiais, é possível identificar e analisar objetos de civilizações da antiguidade, proporcionando informações sobre sua cultura e o seu modo de vida.
Também ao contrário do que se pensa, a Arqueologia não estuda apenas o passado remoto da Humanidade. Nas Américas, convencionou-se chamar de Arqueologia Histórica a pesquisa feita em locais ocupados pelos europeus e africanos que entraram em contato com os indígenas durante o processo de colonização. Assim, estudos vêm sendo desenvolvidos no subsolo de grandes cidades, na sedes de antigas fazendas, em quilombos, campos de batalha, navios naufragados e fortes, permitindo que se conheçam inúmeros aspectos do cotidiano que, via de regra, não constam dos documentos oficiais.
O acervo arqueológico, que se compõe de artefatos ou fragmentos destes, estruturas arquitetônicas, sepultamentos, fogueiras, ruínas, entre outras resultantes de antigas ou relevantes ocupações realizadas por populações humanas, sejam duradouras ou temporárias, antigas ou mesmo mais recentes se constitui em importante fonte para pesquisa entre estudantes e arqueólogos que podem analisar e interpretar as evidências materiais já obtidas, fornecendo assim subsídios sobre os hábitos e costumes cotidianos, poder aquisitivo, padrões de consumo, padrões de assentamento, áreas de atividade, simbolismo e tantas outras.
Define-se como sítio arqueológico o local utilizado pelos grupos pretéritos para as suas habitações (moradia) e todas as atividades que permitiram a sua subsistência, cujos testemunhos (vestígios arqueológicos) encontram-se espacialmente distribuídos.
Neste caso, a área ecológica que envolve os locais ocupados por estes grupos para a caça, a pesca, a coleta e a agricultura pode ser estendida a sítios arqueológicos, pois consideramos muito importante entender o espaço (o cenário) em que os sítios foram construídos.
A partir de algumas características ecológicas e ambientais da localidade em que estão os sítios arqueológicos, poderemos compreender com mais facilidade como viveram os nossos antepassados e como eles utilizaram o meio ambiente para suprir as suas necessidades.

ARQUEOLOGIA DA MORTE
Para o arqueólogo, esqueletos são como um diário escrito. Dentes e ossos se tornam verdadeiras páginas que relatam a vida e a morte dos indivíduos.
Se perguntarmos ao arqueólogo qual vestígio o coloca mais próximo do passado, sem dúvida a resposta será: os esqueletos humanos.
Retirar esqueletos da terra durante as escavações e, depois, estudá-los cuidadosamente em laboratório, faz com que o pesquisador lide com os restos das próprias pessoas que procura entender. E para isto existe a chamada Antropologia Biológica, que se volta ao estudo das características biológicas, evolutivas e adaptativas do homem.
Um dos grandes temas desenvolvidos pela Antropologia Biológica é o estudo das origens do homem, ou seja, o processo que levou ao desenvolvimento físico do primeiro hominídeo e sua evolução até o nosso estágio atual. Estes estudos vêm sendo realizados na África, considerada o berço de nossa espécie. Já no continente americano, esse campo específico apresenta limitações de ordem temporal, uma vez que os primeiros americanos já se encontravam num estágio evolutivo semelhante ao atual.
"Do que se alimentavam, que doenças contraíram? Os esqueletos respondem."
E não estamos falando de trillers de terror, mas sim da contribuição da Antropologia Biológica que retira de esqueletos preciosas informações, ajudando os arqueólogos a conhecer a idade e o sexo dos mortos, os padrões de saúde e, até mesmo, estabelecer com rigor o número de sepultamentos existentes em um sítio arqueológico, já que muitas vezes eles apresentam difícil leitura.
Meticulosas medições e análises de esqueletos ajudam ainda a conhecer as taxas de mortalidade infantil, doenças crônicas, traumatismos provocados por acidentes, guerras e esforços físicos. Mas o pesquisador não pára por aí, e desenvolve pesquisas que nos permitem conhecer, inclusive, a dieta dos brasileiros de 3, 5 ou 10 mil anos atrás.
Será que é homem ou mulher?
Por exemplo, a definição do sexo de um indivíduo sepultado é obtida a partir da distinção que existe em uma determinada porção do esqueleto: a pélvis (ou bacia). Os homens apresentam a pélvis menos dilatada do que as mulheres. Afinal, são elas quem carregam por nove meses os bebês em gestação e depois dão à luz.
Obter a altura dos indivíduos torna-se fácil, no caso de dispor de um esqueleto inteiro. Mas se o arqueólogo conta com apenas parte dos ossos, deverá estimar a altura a partir dos ossos longos, principalmente da perna.
Para definir a idade de um esqueleto existem diferentes indicadores. Um deles é a análise da presença ou substituição dos dentes de leite e dos permanentes na arcada dentária. Outro indicador é o fechamento da calota craniana, que na criança é aberta, fundindo-se e enrijecendo-se com o passar do tempo. Isto explica a preocupação dos pais em proteger a cabeças dos bebês, pois não tem a "moleira formada", expressão de domínio popular.
"A partir de alguns esqueletos torna-se possível dialogar com populações inteiras"
Além de conhecer a idade, a altura e o sexo, pode-se calcular a expectativa de vida de uma população, ou seja, a idade estimada que as pessoas alcançavam.
Em algumas sociedades a mulher tem menor expectativa de vida, devido a complicações derivadas da gravidez e do parto. Já em tempos de guerra, é compreensível que a expectativa de vida da população masculina seja menor.
Esses estudos demográficos fornecem informações a respeito do tamanho da população tratada, taxas de nascimento e óbito, índices de crescimento e densidade populacional numa região. Porém, esses estudos exigem sofisticados programas estatísticos já que os restos humanos são bastante frágeis à conservação, não suportando mudanças de clima ou a umidade do solo, representando apenas parcela de uma população.
Velhas, famosas e preservadas pelo tempo
Os esqueletos geralmente se preservam em locais mais protegidos e estáveis, como entradas de cavernas ou abrigos rochosos. E foi dentro de cavernas que pesquisadores encontraram os mais antigos esqueletos conhecidos no Brasil até o momento: "Luzia", que ganhou até uma reconstituição facial e foi capa de revista, encontrada nas grutas calcárias de Lagoa Santa (Minas Gerais), com 12.000 anos de idade; e a "Zuzu", nos abrigos rochosos da Serra da Capivara (Piauí), submetida à datações recentemente, contando com mais de 10.000 anos.
Fato curioso: ao que parece, a Zuzu se preservou graças a um trágico acidente. Enquanto dormia em seu abrigo, uma grande rocha se desprendeu do teto, possivelmente, matando-a, porém, criando condições favoráveis de conservação e estudo de sua ossada.
Mais fatos da vida
Além de descrever as características físicas dos indivíduos, a Antropologia Biológica também estuda uma série de fatos ocorridos durante suas vidas.
Um ramo da Antropologia Biológica (a Paleopatologia) se dedica à origem, frequência, dispersão e tipos de doenças nas populações antigas.
Analisando os esqueletos, o pesquisador identifica várias anomalias, que podem ter sido causadas por doenças infecciosas, hormonais, nutricionais, metabólicas, tumores, stress mecânico ou inflamação dos tecidos moles. Porém somente algumas doenças deixam marcas evidentes nos ossos como a lepra, o câncer, a pólio, a sífilis, a artrite e a osteoporose. Nas fezes fossilizadas e preservadas (coprólitos), os estudiosos obtêm informações detalhadas sobre parasitas intestinais.
Recentemente, arqueólogos encontraram em São Paulo uma série de sepultamentos, sendo que um indivíduo apresentava um fêmur fraturado que, entretanto, havia sido tratado (a consolidação estava perfeita). Isto indicou que o grupo havia-se preocupado em cuidar da pessoa enferma.
E como teria sido a alimentação dos nossos antepassados? Rica, pobre, equilibrada ou deficiente? Algumas marcas permitem avaliar a questão: ossos mais finos podem indicar uma dieta não adequada, assim como uma tendência para diminuir a altura das pessoas.
A saúde dos dentes também é afetada, havendo uma incidência de cáries muito maior em populações que desenvolveram o cultivo, do que em grupos apenas caçadores e coletores. Isto porque os produtos cultivados provocam fermentação de açúcares e, com isto, a formação de placa bacteriana, resultando em dentes cariados.
"Encontrada urna funerária de barro com um esqueleto humano"
É usual os arqueólogos em suas pesquisas ouvirem das populações por onde passam que alguém encontrou uma "panela de barro com restos de gente dentro". Algumas vezes a polícia é chamada, até que se esclareça o "crime": trata-se de enterramentos indígenas de nossa pré-história.
Ocorre que o cuidado com os mortos é um traço marcante na espécie humana e, por isso, utilizado pelo arqueólogo como uma importante fonte de informação sobre o grupo que ele está estudando.
No Brasil pré-colonial, vários grupos mantinham o hábito de enterrar os indivíduos diretamente no chão, envolvendo-os apenas em alguma espécie de esteira de palha. O corpo podia ser colocado em diferentes posições, sendo a mais comum a estendida (com o corpo esticado, como fazemos atualmente), ou em posição fletida ou dobrada, à semelhança de um feto em formação no útero materno.
Algumas culturas realizam suas cerimônias em etapas, deixando passar um período de tempo depois de terem enterrado seus mortos para, depois, desenterrar os ossos e realizar o que os arqueólogos chamam de "enterramento secundário", ou seja, o segundo enterramento. Como se observa ainda em grupos indígenas atuais, o grande funeral, cercado de festas e cerimoniais, se dá nesta segunda fase.
Outras culturas adotaram a seu tempo "caixões de argila", que podem ter a forma de uma vasilha doméstica, ou terem complexos ornamentos em formas de animais e de pessoas.
No interior das urnas, além de esqueletos, é possível encontrar uma série de objetos como armas, colares e machados polidos. Também pequenas vasilhas cerâmicas se fazem presentes, quem sabe contendo alimento e água para o espírito do morto. Conforme as suas características, essas oferendas funerárias podem informar os arqueólogos sobre a posição social da pessoa enterrada: se um guerreiro, um pajé ou um chefe importante.
De qualquer modo, ao lidar com esse vestígio, o arqueólogo se vê muito próximo de práticas de alta significação ritual. A "Arqueologia da Morte" traz não apenas informações sobre as condições de vida dos homens do passado, mas também sobre os cuidados que o grupo tem com eles após a morte.
É por esta razão que hoje, quando os arqueólogos estudam grupos indígenas que ainda sobreviveram no tempo, as escavações dos cemitérios antigos são acompanhadas por membros da comunidade atual. Afinal de contas, está-se lidando com o território sagrado de um povo, cujas regras e princípios precisam ser respeitados.

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